Mostrando postagens com marcador 2BlogProgSP. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 2BlogProgSP. Mostrar todas as postagens

Vídeos do 2º Encontro Estadual de Blogueiros e Ativistas Digitais de SP

Já estão disponíveis os vídeos do 2º Encontro Estadual de Blogueiros e Ativistas Digitais de SP, realizado nos dias 24 e 25 de abril de 2015, no SINDSEP, centro de São Paulo.

Mesa de abertura (24/04)


Mesas de debate (25/04)

As desconferências foram realizadas simultaneamente, por isso, não foram transmitidas nem gravadas.




Amplificada pela mídia, onda conservadora não vingará



Por Felipe Bianchi

Para os jornalistas Palmério Dória, Luis Nassif e Rodrigo Vianna, o recrudescimento conservador pelo qual passa a sociedade brasileira e que é intensificado pela mídia não vingará. Em debate que encerrou o II Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, eles deixaram suas impressões sobre a conjuntura  e traçaram paralelos do atual momento com os anos de 1954 e 1964. No entanto, praticamente descartaram a hipótese de um triunfo golpista no país.

Rodrigo Vianna, autor do blog Escrevinhador, leu em voz alta uma citação e questionou os mais de 100 presentes a descobrirem a qual jornalista pertencia o texto. Reinaldo Azevedo foi o primeiro a ser apontado, mas o texto era de Carlos Lacerda, em forte ataque ao “governo imoral e ilegal” de Getúlio Vargas, como diz o trecho. “Acho que o cenário remonta até mais à essa época do que à 1964”, opina Vianna. “Os jornais estavam desesperados para derrubar Vargas, mas não tinham claro o que queriam, assim como a oposição partidária atual não tem clareza de qual projeto pode apresentar ao país”.


Ele lista uma série de semelhanças entre a atuação dos meios de comunicação àquela época e agora, como os ataques às medidas populares de Vargas, “que tachavam ‘peronista’”, como o aumento do salário mínimo e as leis trabalhistas e as políticas populares dos últimos 12 anos.

O próprio Fernando Henrique Cardoso, recorda o blogueiro, já disse que faz falta no Brasil um Carlos Lacerda. “Hoje tem uns cinco, dez, quinze Lacerdas fazendo essa agitação, mas não conseguem levantar debate porque só sabem fazer acusações histriônicas”, diz.

A comparação com 1964, de acordo com os debatedores, também é inevitável. O papel da mídia, que cercou o então presidente João Goulart, foi um dos elementos mencionados, assim como à classe média indo às ruas com um discurso histérico e extremamente moralista.

“O fato de não haver tanques de guerra na rua não significa que a democracia não esteja sob risco”, ressalta Vianna. “Mas não acho que essa barbárie vencerá a massa crítica e os movimentos sociais brasileiros, que têm instrumentos para equilibrar a balança”.

A crise dos jornais e o poder da Internet

Luis Nassif, do Portal GGN, recorre à história para elucidar o cenário dos meios de comunicação na atualidade. “Primeiro, amedronte o cidadão. Depois, tranquilize-o com um ‘cacetete de jornal’. Ou seja, crie uma ameaça fantasmagórica e desesperadora e, na sequência, crie super-heróis que ajudarão a matar o monstro. Essa análise, acreditem, é de um estadunidense em 1920”.

O poder da mídia, argumenta Nassif, está enraizado na lógica do ‘homem inferior’, o cidadão típico da classe média. “Esse cidadão é facilmente manipulado em momentos como o que vivemos hoje”, afirma. “O que move a maioria silenciosa é o desconforto com a situação. Como a mídia só mostra notícia negativa, causa grande mal estar, mas não vejo uma questão tão ideológica assim”, pondera. “É verdade que o Congresso que aí está parece não ter sido eleito para governar e, sim, para legislar, mas tenho reservas quanto a esse proclamado avanço da direita”.

Assim como a chegada do rádio no Rio de Janeiro provocou crise ao quebrar o monopólio dos jornalões, a Internet chacoalha as estruturas dos grandes grupos de comunicação, aponta. “A Internet é uma tecnologia que a mídia tradicional não pode controlar e, por isso, entram em pânico. Não existem mais barreiras de entrada, como existe nas empresas tradicionais de comunicação”.

Mais que a opinião pública, a democracia depende, fundamentalmente, da opinião publicada, defende Nassif. “São dois públicos básicos: a classe média estabelecida e os novos incluídos, sindicatos e movimentos sociais. Antes, o modo de divulgação desse segundo público eram os jornais, com os mimeógrafos. Agora, estão presentes na Internet”.  

Os jornais, conforme argumenta, perderam a supremacia da audiência. “São os mais fortes, mas não têm o mesmo poder”, dispara. “Essa bronca com os blogs e as merrecas que recebem só serve para pressionar pela redução do ritmo de publicidade na Internet, que acaba dirigindo todo o dinheiro para a Globo e para a TV aberta”.

Palmério Dória, autor de ‘O Príncipe da Privataria’, também mostra entusiasmo com o fortalecimento da blogosfera e das mídias alternativas no cenário digital, mas critica a inércia do governo em tomar medidas para democratizar o setor. “Lula e Dilma não fizeram o dever de casa. Não dá pra ficar esperando de braços cruzados o governo entrar na questão fundamental da regulação da mídia”, assinala. “Somos todos reféns da grande imprensa, como mostra esse movimento de rua das elites, provocado e amplificado pela mídia”.

Com vasto currículo na imprensa, inclusive nos meios alternativos, Dória lista algumas de suas parcerias ao longo da história, como um programa de rádio com Lúcio Flávio Pinto, em Belém. “Depois, encontrei minha turma em São Paulo, que eram os filhos da revista Realidade”, relata. Ele também lembra de Tarso de Castro, no Rio de Janeiro, que fez O Nacional e o Pasquim, além da turma da Caros Amigos.


“Minha turma, hoje, são vocês, que estão nesse tablado e nesse auditório”, diz. “Nós que pensamos em como fazer informação e jornalismo relevante nos dias de hoje. Meus heróis e inspiradores de outros tempos, atualmente, estão na blogosfera”, exalta. O desafio, segundo ele, é como transformar os blogs em jornalismo factual e reportagem. “Mesmo com o entrave da falta de financiamento, temos que pensar como dar menos opinião e reportar mais mais fatos, como a Agência Pública, a Fórum, o próprio Nassif, a Laura Capriglione e o Paulo Nogueira estão fazendo. Como dar ‘um plus a mais’ em algo que tem mostrado força e qualidade”.

Referência mundial, Marco Civil da Internet ainda está em disputa

Por Felipe Bianchi

As conquistas do Marco Civil da Internet e os desafios de sua regulamentação foram tema de discussão neste sábado (25), no II Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais de São Paulo. Renata Mielli, do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Veridiana Alimonti, do Coletivo Intervozes; e Ronaldo Mota, do blog Desenrola e Não Me Enrola compuseram a mesa, mediada por Eduardo Guimarães (Blog da Cidadania).

Considerada uma das legislações mais avançadas do mundo para o campo da Internet, a lei sancionada há praticamente um ano está em processo de regulamentação, que poderá garantir ou colocar em risco os direitos à liberdade de expressão e à privacidade. “O debate sobre o Marco Civil não é um debate técnico, como colocam os meios de comunicação”, defende Renata Mielli. “Esse é o expediente das elites para interditar debates públicos”.

Para ela, jornalistas e comunicadores se envolvem menos do que deveriam nessa discussão. “Nós, que atuamos em rede, precisamos estar inseridos nesse processo. A Internet é que permite estarmos aqui, reunidos num Encontro de Blogueiros e Ativistas Digitais, e que nos permitiu ter dado saltos quanto à pluralidade informativa, furando o bloqueio da mídia tradicional”.

A condição democrática, segundo a jornalista, é o que esteve em disputa no Marco Civil da Internet. “Houve uma ampla discussão sobre os direitos e deveres na Internet, mas não para criminalizar as pessoas, pois para isso há o Código Penal. A discussão tem que ser para garantir direitos”, diz. “Há setores econômicos muito poderosos no Brasil e no mundo interessados em cercear a rede, com a finalidade de assegurar mais lucros para seus negócios”.

A principal conquista da lei é o fato de colocar, de maneira clara, que a Internet é um direito de todos, avalia Mielli. Ao colocar o acesso à Internet como serviço essencial, a lei coloca o Estado como protagonista no combate ao déficit de acesso à banda larga no país.

O espírito da Internet

O revolucionário da Internet, de acordo com Veridiana Alimonti, é permitir que uma pessoa, em qualquer lugar do mundo, se comunicar com outra, em qualquer lugar do mundo, dependendo apenas da conexão, sem intermediários como os meios de comunicação tradicionais. Apesar disso, no ambiente digital, há outros intermediários em ação.



“Plataformas hegemônicas moldam o discurso de uma outra forma. São empresas como o Google, o Facebook e o YouTube”, diz. “Outra forma de controlar o acesso e o fluxo de conteúdo não depende só de sites e plataformas online, mas das próprias empresas de telecomunicações”.

A neutralidade da rede, assegurada na aprovação do Marco Civil da Internet, garante justamente a não-interferência dos proprietários da infraestrutura da Internet no fluxo de conteúdos que por ela transitam. “Há alguns exemplos clássicos, baseados na defesa de parceiros comerciais, como empresas de telecomunicações deteriorarem a conexão de um serviço como o Skype para favorecer empresas de telefonia fixa”.

Ela lembra o vídeo produzido pelo FreeNet? para ilustrar como as empresas de telecomunicações pretendiam derrubar a neutralidade da rede para transformar a Internet em uma espécie de TV por assinatura.



Sobre o possível acordo do governo brasileiro com o Facebook, Alimonti opina que é uma verdadeira 'bordoada' na sociedade civil que tanto lutou pelo Marco Civil. “O Facebook não é entidade beneficente que quer fazer projeto de inclusão digital. Isso se resolve é com política pública”, decreta. “O principal negócio do Facebook não é o patrocínio de posts, mas o acesso aos dados dos usuários. A privacidade, garantida pela lei, fica ameaçada com esse acordo”

Ronaldo Mota também chama a atenção para a questão do uso dos dados dos usuários. “A quebra da privacidade significa não só usar dados dos usuários para fins comerciais, mas também para fins políticos”, alerta. “O caso de Edward Snowden é emblemático. Ao trazer à tona o sistema de vigilância e espionagem da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), fica clara a importância da privacidade e da proteção dos dados”.

Está em curso, na Internet, uma consulta pública para regulamentar tanto o Marco Civil da Internet quanto a Lei de Proteção de Dados. “A participação da sociedade civil é fundamental para garantir e ampliar os direitos conquistados no Marco Civil”, opina Mielli.



Veridiana Alimonti estará no II Encontro Estadual de Blogueiros de SP


Veridiana Alimonti é advogada e coordenadora do Intervozes. Ela estará conosco no II Encontro Estadual de Blogueiros e Ativistas Digitais de SP.