80 ESPETACULARES ANOS DE UMA MUSA INQUIETA


Sim, no fundo, é preconceito e racismo. No fundo, é. Ora, por que o maior influenciador de massas do mundo pop resolveu deixar sua aldeia e buscar esposa na casa do sol nascente?

Yoko Ono, que hoje completa bem vividos 80 anos, irrita e desagrada até hoje os propagadores, conscientes ou não, do pensamento conservador midiático ocidental. Irrita e desagrada os defensores da
eugenia anglo-saxônica.

Foi ela a responsável pela "perdição" do bom inglês. Não fosse essa "alienígena oriental" (como muitos a rotularam), aquele moço seguiria a correta e segura senda da máquina capitalista do entretenimento.

Talvez ainda estivesse vivo, faturando milhões, como seu colega de banda alinhado, amigão da família real.

Mas o cidadão dos oclinhos redondos cismou de se apaixonar pelas insurgências silenciosas dessa filha de Tóquio.

Aí, conforme a interpretação do cidadão comum, se meteu com os "tóchico", com essas coisas ruins todas que o invasor estrangeiro nos traz. E acabou largando a brilhante carreira de cantador para se meter
em politicagens, em assuntos dos outros, como a Guerra do Vietnã.

Tem gente que até hoje se agasta com o longo beijo público na cama.
"Mas que horroooor, que nojo", manifestam-se.

E ainda descem a lenha em "Give Peace a Chance". Afinal, nada que é engajado pode, de alguma forma, constituir valor artístico.

Por causa dela, o menino de Liverpool se enfiou até os cabelos nessa militância para libertar outro John, o Sinclair, considerado por Nixon um pervertido, fonte de perdição de toda uma geração de jovens
norte-americanos.

E o que dizer das companhias? Yoko exibia-se vaporosa pelos EUA, sempre muito satisfeita em conduzir o marido para as reuniões com os revolucionários Jerry Rubin, Abbie Hoffman e Bobby Seale, este um
negro (vejam só), membro dos temíveis Panteras Negras.

Então, em todo lugar do mundo cristão civilizado, ouviu-se o lamento: "agora, ele anda metido com uma japa e um preto; o que de bom pode sair daí?"

John mergulhou num submundo de anarcossocialistas, pacifistas, libertários e, ainda por cima, inovou com esta de praticar o "amor livre" com uma só mulher.

O governo do macartismo tardio tentou calar o "imaginador". Quase conseguiu. Ou será que conseguiu, em 1980?

Mesmo assim, para espanto geral, a musa seguiu inspirando gente jovem pelo mundo afora.

Sem pirotecnias e proselitismos chatos, condena as guerras da família Bush, fomenta experiências auto-gestionárias de produção, apoia fortemente as lutas das comunidades LGBT e segue até mesmo fazendo música (grande anátema).

Já nos anos bem maduros, anda incomodando os governos com sua militância contra o "fracking", esse sistema sujo de prospecção de gás natural e petróleo, capaz de contaminar as águas subterrâneas e
liberar gases do efeito estufa.

Com seu labor subversivo, tem feito a cabeça de gente como Lady Gaga e Anne Hathaway. Mas que viúva levada da breca!

Agora, se meteu a defender o fundador do Wikileaks, Julian Assange, aquele doido que vazou denúncias gravíssimas sobre os poderosos do mundo, pulverizando de vez a reputação dos governos neoliberais do
Ocidente.

Yoko lhe ofereceuy o "Prêmio à coragem nas artes". Como Assange tem circulação limitada, protegico pelo equatoriano Correa (reeleito), vejam quem foi receber o mimo... Sim, Baltasar Garzón, outro
perseguido, odiado por todo neofranquista espanhol ou membro da Opus Dei. Afinal, Garzón investiu contra Pinochet, Kissinger e Berlusconi...

Ah, Yoko, quanta nipo-coragem. Lembra outra menina do Nihon, a bela revolucionária anarquista Noe Ito.

Texto :  Walter Falceta
Jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário