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Concentração da mídia é ameaça à democracia

Abertura do 2º ENDC

“Comunicação é direito e o Estado deve garantir esse direito”, afirma Rosane Bertotti, no 2º ENDC, em Belo Horizonte

Por Vanessa Ramos e Érica Aragão

O 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC), que aconteceu de 10 a 12 de abril, em Belo Horizonte, Minas Gerais, reuniu cerca de 700 pessoas neste sábado (11), entre representantes dos movimentos sociais, sindical, do governo, estudantes, acadêmicos e diversos coletivos e organizações que debatem o tema comunicação.

A mesa de abertura trouxe à tona o cenário internacional e os desafios do Brasil para enfrentar a regulação democrática da mídia e, ao mesmo tempo, a garantia do direito à comunicação.

A coordenadora-geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e secretária nacional de Comunicação da CUT, Rosane Bertotti, destacou que o tema se torna ainda mais importante na conjuntura atual, momento em que a classe trabalhadora está tendo seus direitos ameaçados. “A liberdade de expressão nos permitirá fortalecer a democracia, o direito à voz e à diversidade”.

Na mesma linha, a presidenta da CUT Minas Gerais, Beatriz Cerqueira, fez referência à cobertura da grande mídia frente ao momento político pelo qual a classe trabalhadora está passando com a aprovação do PL 4330/04, que precariza as relações de trabalho e abre as portas para a terceirização desenfreada, permitindo esta prática na atividade-fim da empresa. “A crise deve ser transformada em estímulo”.

Diante das cobranças, o secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Emiliano José, garantiu que o governo irá promover neste ano o debate sobre a regulação da mídia no Brasil. “Todos os setores da sociedade serão chamados a participar dos espaços de discussão e ali poderão responder qual marco regulatório querem para o País”, afirmou.

Emiliano fez referência à mídia hegemônica brasileira, também considerando-a como um polo político. “Eu não acredito na auto-regulação da mídia sobre si mesma. O estado democrático é quem deve regular a mídia”, acredita.

Em ironia às críticas feitas ao Brasil e a países da América Latina por setores de direita da sociedade, o representante do Ministério das Comunicações fez menção à América do Norte. “Os EUA têm uma legislação muito mais rigorosa do que a nossa no setor e por que, então, não são chamados de bolivarianos ou censuradores?”, questionou.

Luta mundial

O consultor da Unesco e diretor-executivo do Centro de Direitos e Democracia, Toby Mendel, destacou que a liberdade de expressão é também o direito de receber e buscar informações. “Na lei de direito internacional, o que protege é o fluxo de informações e ideias. Quando temos uma restrição maior do que o benefício, então ela não é legítima”.

Para Mendel, é preciso existir uma relação de equilíbrio. “O debate público é essencial e se observarmos a democracia em todo o mundo, veremos que todos os lugares têm um órgão ou algum sistema de regulação”, lembra.

O consultor comentou sobre o Canadá como país de controle. “Se observarmos a regulamentação da transmissão por lá existem três condições essenciais, que são o licenciamento, a regulamentação de conteúdo e a aplicação de regras legislativas ou do país ao transmissor”.

Direitos humanos

Rosane Bertotti ressaltou que a comunicação deve ser vista como um direito humano.  “Quando a comunicação é tratada como um direito, o Estado tem que ser garantidor deste direito.  E defender direito é defender a democracia”.

Em consonância com a dirigente da CUT, o professor e pesquisador da Universidade de Buenos Aires e da Universidade Nacional de Quilmes, Martín Becerra, questionou se as organizações presentes estabelecem a regulação dos meios como um direito humano. Para ele, isso precisa ser discutido e é questão chave no que tange à regulamentação. “A liberdade de comunicação deve ser como direito social e não como um direito dos emissores. Isso supera várias barreiras de caráter coorporativo”, opina.

Becerra destacou avanços na Ley de Medios, aplicada em 2009 pelo governo da presidenta Cristina Kirchner para romper com o oligopólio midiático, no qual o Grupo Clarín era um dos principais representantes. “A articulação da sociedade civil, que sustenta a sociedade, é de extrema importância em todo esse processo. É preciso sempre avaliar se a lei se aplica igualmente a todos os atores sociais”.

Para Rosane, é fundamental que existam instrumentos de comunicação para elevar a voz da sociedade. “Neste sentido nossas rádios comunitárias, TVs comunitárias e a nossa estrutura de comunicação pública não podem ser só retóricas, elas devem ser parte da estratégica na construção da mídia democrática”.

Ao final da mesa, Becerra fez elogios ao envolvimento das organizações no Brasil e observou que a regulação dos meios não se refere somente à lei, ao dispositivo legal. “Mais respeitável do que isso é a consciência social e política que se tem de que os meios não são produzidos com uma concepção imaculada. Ou seja, a imaculada concepção dos meios de comunicação tem sido colocada em crise. E essa crise é muito bem-vinda”, concluiu.

Fonte: CUT

Carta de Belo Horizonte: "Regula Já!, nossa luta é por mais democracia e mais direitos!"



"Em um momento em que o povo brasileiro e suas instituições democráticas enfrentam uma conjuntura política e econômica adversa, mais do que nunca, levantamos a bandeira: por mais diversidade e pluralidade de vozes na mídia".

Com a participação ativa de 682 inscritos, o 2º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC) aprovou, na tarde deste domingo (12/4), a Carta de Belo Horizonte. O documento reafirma a luta pela democratização da comunicação como pauta aglutinadora e transversal, além de conclamar as entidades e ativistas a unirem forças para pressionar o governo a abrir diálogo com a sociedade sobre a necessidade de regular democraticamente o setor de comunicação do país.

Rosane Bertotti, coordenadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), comemorou o resultado do evento, que reuniu ativistas, estudantes, militantes, jornalistas, estudiosos e pesquisadores da comunicação, representantes de entidades e coletivos e autônomos de todo o Brasil. "Nosso encontro mostrou que a luta por uma comunicação democrática, inclusiva, plural está mais ativa e é mais necessária do que nunca. E mais do que isso, que os movimentos estão dispostos a cobrar do governo que paute essa questão a coloque na agenda dos debates estratégicos para o país".

Leia o documento na íntegra aqui.

Fonte: FNDC

Encontro paranaense traça planos para uma mídia mais democrática

Foto: Vinícius Carvalho

Cerca de 100 pessoas estiveram presentes no Encontro, que serviu como preparatório para o Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (ENDC), marcado para abril em Belo Horizonte – MG. “Essa é uma luta que não se faz só no nível nacional, ela também deve chegar aos estados e cidades para ser concreta no dia-a-dia das pessoas”, comenta Bia Barbosa, da coordenação nacional do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

O professor de jornalismo Ayoub Hanna, que integrou a mesa de abertura, também defende a importância de debates como esse. “Precisamos desses eventos para mobilizar movimentos sociais, sindicatos e organizações para a defesa desse direito legítimo de toda a população”, diz.

O EPDC discutiu a regulação da mídia para uma comunicação menos concentrada nas grandes corporações, bem como o atual cenário político que favorece a exclusão de grupos minoritários dos meios de comunicação. “A grande maioria da população está excluída da mídia tradicional, dos conteúdos de entretenimento, como as novelas, mas, principalmente, do conteúdo de jornalismo”, explica Ayoub.

Comunicação na rua

Às 13h, os participantes se reuniram em frente à catedral da praça Tiradentes para uma intervenção na rua. O ato contou com música e recital de cordel para chamar a atenção dos passantes para a representatividade das diferentes culturas e sotaques na grande mídia.

Mais tarde os encontristas se dividiram em grupos que debateram os seguintes temas: representação das identidades regionais em produções audiovisuais; comunicação pública; comunicação popular; mídia e direitos humanos; e o Marco Civil da Internet. Cada grupo elaborou uma carta de propostas, que serão unificadas em um documento para ser apresentado no Encontro Nacional.

Para Bia Barbosa, esse foi um dos pontos mais positivos do encontro. “Muitas vezes ocorrem grandes encontros e debates e isso não é transformado em algo concreto. Aqui, o debate gerou propostas específicas para a ação nacional e dentro do estado”.

Participação estudantil e de movimentos sociais

Grande parte dos participantes eram jovens, em sua maioria, universitários. O número de estudantes nas discussões não surpreendeu o professor Ayoub Hanna. “Temos visto grande participação dos estudantes em muitas lutas. A capacidade de mobilização estudantil é muito maior que a de qualquer outra categoria e isso fortalece os eventos. Quando há uma participação como essa, a gente vê que o resultado pode ser mais forte no futuro”.

A bacharel em direito e mestranda da UFPR Alice Novato, 25, se disse muito satisfeita com a representação que encontrou no evento. “Todos os grupos minoritários estavam representados e estavam muito à vontade, o que mostrou como o próprio evento foi democrático”, conta. Alice, que também integra a Rede de Grupos de Agroecologia do Brasil (REGA Brasil), considera a comunicação uma pauta fundamental para qualquer tipo de mobilização. “Me senti contemplada em ver que as pautas que foram encaminhadas aqui são pautas que surgem reiteradamente nos nossos movimentos”.

Ana Paula Salamon, da Frentex – PR, destaca a importância da diversidade de grupos presentes. “Cada movimento tem suas lutas, mas quando se fala em democratização da comunicação, isso perpassa todas as outras reivindicações. Uma reforma política no país não pode ser feita sem olhar para a comunicação”, explica.