
Quem trafega pelas serpentes viárias da nova Itaquera vê o Brasil trabalhando, suando em construções. Assiste à boa metamorfose da pátria, dura ainda, mas gentil na autorização do sonho.
Quem liga o rádio, no entanto, sente logo o coração descompassar-se. Afinal, fato semelhante pode ser repetir por esta leste visada, para onde convergem os olhos dos invejosos e dos oportunistas.
O cinegrafista Santiago, que ia completar meio século de vida, agora tem um cérebro morto, resultado da explosão de um artefato originalmente produzido para alegrar ocasiões festivas.
Este exército juvenil é o mesmo que, dias destes, em Arthur Alvim, gritava um "nãovaitercopa" e preconizava a destruição do novo estádio do SCCP.
Dizem acreditar, como pretexto fácil e fútil, que perdemos hospitais e escolas para a indústria da bola. Esquecem-se de que esses benefícios dinâmicos precisam ser sustentados pela geração contínua de receitas?
Ora, somente o futebol oficial, o "grandão", este supervisionado pela odiada FIFA, gera impostos que sustentam o equivalente a 512 hospitais públicos no Brasil.
Interroguem-se os milhares de trabalhadores de Itaquera (e suas famílias) sobre o "ideal revolucionário" de suspender as obras públicas e privadas associadas ao evento da FIFA. No Brasil, eles são 213 mil.
Se cada real investido na Copa vai gerar, em média, R$ 2,4 (em pagamento de juros e receitas públicas futuras nos próximos dez anos), será que realmente o Corinthians e Blatter estão tirando o pão da boca dos famintos?
Da próxima vez, ao arrotar revoluções, convém que os meninos da barbárie confiram se o companheiro de luta é mesmo um bravo ou um covarde a serviço do retrocesso.